O Nascimento
A única certeza que tenho dessa vida é que ela é um verdadeiro túnel com várias saídas. Arrastou-me para uma parede e se fez vento. Vagarosamente tocou na minha alma e impingiu-me sentimentos.Estava escuro, eu não conseguia sequer enxergar o seu rosto. Foi tudo tao rápido , aconteceu como um sopro. Deslizou a sua mão sobre o meu corpo e balbuciou num tom gracioso: “vem, estou a tua espera”. Não percebi o que ela queria comigo. Apenas cedi ao seu pedido e deslizei pelo túnel abaixo em que lá havia.
Eu não sabia. Não entendia também porquê que ao seu encanto eu me rendia. Deslizei suavemente e comecei a ver alguma luz de repente. Com os braços vazios e o meu corpo totalmente borrado com as águas daquele túnel, chorei por alguns segundos. Ela não me deu manual de instruções. E agora? Como poderei lidar com tantas emoções? Mas o que queria ela com isso? Por que cá estou? Parei então de chorar. Senti um toque tão materno ! Adormeci quando me apercebi que me tinham posto num cômodo Tao doce, tão pequeno: o seu peito.
Tudo começou a fazer mais sentido. Ela sabia, ela sabia que seria bem recebida. Ou não. Não interessa, o que importa é que agora sinto-me bem onde estou e daqui já não quero sair. Cresci. Faz um ano que para aqui ela me mandou. E até agora ainda não sei para onde vou. Está um homem parecido com o senhor que me põe a dormir todos os dias. Quem será? E agora? Ele está a sorrir para mim, o que faço? Não vejo no meu rosto nada de engraçado. Vida! Ela mandou-me para cá sem manual de instruções! E agora? Ah! Assim está melhor. É confortável o seu colo, parece o homem que me põe todos os dias a dormir ao me encher de amor.
Amadureci. E agora? Apaixonada estou. Aonde está a vida para me por de volta de onde me tirou? Estou a sofrer paulatinamente. O meu coração já dói de tantos tropeços.Chega. Quero voltar. E para a próxima faça um manual de instruções para eu melhor me orientar. Ou não haverá uma próxima? Oh espera! Deixa-me aproveitar. Vou tentar lidar com esse amor que faz a minha alma chorar. Podia nunca me apaixonar? Ou me impingiste sentimentos? Vida! O que fazes tu com esses teus pretextos? Talvez fosse essa uma das suas belezas … a fase da paixão, a transição para o amor ...mas e o amor eterno? Poderei nele confiar? Responda! Puseste-me aqui. Agora tens o dever de falar.
Consegui ultrapassar aquele sofrimento que o sentimento me causara. Não, a vida não me explicou nada. Deixei passar o tempo. Conheci pessoas a todo o momento. Gostava cada vez mais de onde estava. Parecia estar no sitio certo, no momento perfeito. Dentre todas as pessoas, uma delas destacou-se. Rabiscou o meu coração com a sua transparência. Moldou a minha felicidade com o seu sorriso. Chamei-a então de melhor amiga. O tempo voava quando com ela eu saia ou sentava para conversar. Parecíamos dois pássaros a falar. Agora já não te peço para voltar, vida.
Tracei uma rota, segui os passos do meu sonho e passei a caminhar na direção em que ele apontava e almejava sempre pela conquista.
Conheci o rosto do verdadeiro amor. O amor puro, o amor que me dava paz, deixava-me imune a dor, a qualquer sofrimento.
Estava tudo bem. De repente ouvi um grito. Estremeci o peito, assustada. Os meus olhos piscavam e quando fechavam, não via nada. Apenas reconheci uma voz. Era ela. Estava a chamar por mim novamente. Dessa vez para voltar. Disse que precisava entregar-me a alguém. E eu disse que dessa vez não aceitava. Ela insistia, enquanto o meu corpo eu balanceava.”- Estou bem aqui”- Disse eu apavorada. “-A morte chama por ti”- Respondeu ela assustada. -”Não! Eu não vou. Vou lutar pela vida que me deu . E diga a ela que não me encontrou.”- Respondi eu com uma voz segura e firme. Ela se calou.
Abri os olhos e tudo se passou. Estava lá, firme e forte. Pronta a continuar a viver. Dessa vez sem muitas questões, apenas viver e deixar-me ser feliz.